Wesley Sa'telles Guerra
O avanço da Direita e os ecos do conservadorismo
Ao analisar o discurso de determinados candidatos e as mudanças políticas recentes em países da América Latina, Ásia e Europa, vemos uma inquestionável movimentação das forças políticas para partidos de direita e extrema-direita. Donald Trump (EUA), Marine Le Pen (França), Viktor Orban (Hungria), Mariano Rajoy (Espanha), Benjamin Netanyahu (Israel) entre outros políticos e candidatos representam o avanço das ideologias de direita e um novo alinhamento de forças e ideologias.
O que chama mais a atenção neste processo é que não se trata de uma defesa das políticas econômicas liberais e de uma redução do papel do Estado dentro de economia e da vida pública valorizando a individualidade das pessoas – ao menos não em primeiro plano – tudo pelo contrário, grande parte desse movimento se apoia em questões sociais para ganhar força e no papel do Estado como indutor de políticas e como transformador da economia.
Argumentos sexistas, xenofóbicos e homofóbicos ganharam força nos últimos anos, e parece até mesmo contraproducente que partidos que em um passado lutaram pela liberação dos escravos como os Republicanos dos Estados Unidos, hoje tem como sua principal figura a um líder que constantemente ataca minorias e populações étnicas que mesmo em alguns casos sendo americanas, não cumprem com sua visão de uma “América Grandiosa”.
Colocar no mesmo patamar ao líder republicano Abraham Lincoln e o candidato Donald Trump é de fato uma demonstração de que houve uma profunda modificação na base ideológica da direita. Assim mesmo o processo também é perceptível na esquerda.
A falta de um inimigo global parece propelir as forças políticas a buscar dentro da sociedade os elementos dissidentes e culpáveis pela situação atual, culpar o apoio a minorias ou elementos fracos da população se transforma na origem dos problemas políticos da mesma, todo projeto de inclusão social, assistencialismo ou distribuição de renda é visto como uma elemento de esquerda e não como políticas de um sistema capitalismo que precisa da constante expansão do mercado para sua própria sobrevivência.
Um programa assistencial, como o Bolsa Família no Brasil, que consome menos do PIB (aprox. 3%) que os benefícios e aposentadorias cedidos a funcionários públicos dos três poderes, é usado como motivo para incentivar a sociedade a assumir esse discurso conservador facilmente absorvido pela classe média e gerar um profundo sentimento de repulsa a tudo o que parece ser “esquerdismo”.
Essa transformação política que nos leva a uma nova era de conservadorismo exacerbado e o avanço da direita pela oratória, mas que pela planificação econômica, explica a transformação política até mesmo de partidos cujas origens eram de esquerda. O caso do PSDB (Partido Social Democrata do Brasil) talvez seja o mais perceptível, ainda que tenha nascido em uma base de esquerda e que seja o responsável inicial de grande parte dos programas assistenciais e sociais do país. O PSDB migrou graças ao seu discurso e ao simples fato de pertencer a oposição, para representar a direita brasileira e defender uma pauta conservadora e até mesmo contrária aos próprios ideias que levaram a formação do partido.
O mundo caminha para uma nova era conservadora e um discurso menos inclusivo, com a redução de direitos sociais, menor inclusão das minorias e com lemas pré-fabricados tais como “valores tradicionais”, “valores da família”, “valores cristãos”… Ignorando de fato a própria composição da sociedade, tais como o número de família monoparentais que existem no país e são excluídas da visão da família tradicional; a miscigenação cultural que agrega valores de diferentes culturas ao meio familiar; a composição étnica e religiosa do país, onde existem diferentes religiões etc.
O discurso conservador se apoia na criação de mitos sociais e exclui e responsabiliza todo elemento fora de dessa descrição, gerando uma espécie de inquisição onde a sociedade inqueri aos diferentes grupos se estes pertencem ao lado certo e meritocrático ou do lado que se apoia em ideais e movimentos considerados inválidos para o bom funcionamento da sociedade tradicional tais como o feminismo, a luta LGSBT, a luta trabalhista, etc.
O Liberal e/ou neoliberal foi substituído nos partidos políticos pelo conservador e tradicional, havendo uma direita mais religiosa e teosófica que uma direita baseada em ideais de livre mercado e centralização na individualidade das pessoas e na sua capacidade de lutar e conquistar seu próprio destino. A direita passou do antropocentrismo econômico, político e social, ao teocentrismo dos valores de uma fração da sociedade com suficiente poder de argumentação como para definir o que é correto e tradicional de uma população e o que não.
E a obliteração criada por esse movimento conservador, mina o diálogo político e social e leva a um aumento das tensões e um acirramento dos discursos políticos, promovendo a polarização política da sociedade, o aprofundamento dos problemas sociais e a centralização dos discursos em pessoas mais articuladas e não necessariamente mais preparadas para a complexa tarefa de governar.
E com isso em lugar da direita se aproximar a ideias progressistas e liberais ou neoliberais, centralizados no indivíduo e no mercado e na evolução destes, os partidos se aproximam mais a uma era conservadora típica das ideias de Tomás de Torquemada, onde ganha mais o discurso do ódio sem justificativa e promessas de voltar a ser grandiosos e poderosos que a vontade de evolução dos governos e do mundo…
Bibliografia
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João Antônio de Souza Mascarenhas, A tríplice conexão: machismo, conservadorismo político, falso moralismo, 1998.
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