Wesley Sa'telles Guerra
O PIB da felicidade

O Butão é um país desconhecido para muitos e ignorado por outros, tanto é assim que, segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT), foi uma das 10 nações menos visitadas do planeta em 2013, contanto apenas com 40 mil turistas. Para compreender o que isso significa basta citar países como Chade, Sudão, Coreia do Norte, nações insulares em área remotas do Oceano Pacifico, entre outros integrantes da lista.
Mas, no caso o Butão, o país não tem guerras ocorrendo em seu território e está localizado entre a China e a Índia, não podendo ser considerado inacessível como as ilhas do Pacifico. Porém, as exigências do governo do Butão para obter o visto de turismo – que buscam preservar a cultura nacional – acabam desestimulando os viajantes. Por exemplo, uma delas obriga o turista a ser acompanhado por um guia local e arcar com todos os gastos de seu “companheiro de viagem”.
Ainda assim, a pequena nação próxima a cordilheira do Himalaia começou a ganhar certa relevância ao constar na lista publicada pelo Banco Mundial dos 13 países que mais vão crescer nos próximos 2 anos. A instituição prevê que o PIB do Butão crescerá de 6 a 7% no período, embora o país já tenha registrado taxas superiores a 10% em 2011.
O ritmo de crescimento da produção interna de uma nação é confundido por muitos com desenvolvimento ou grandes oportunidades econômicas, resultando em um crescente interesse pelo país asiático. Mas a pergunta que muitas fazem é:
Como uma pequena nação desconhecida mundialmente, sem grandes fluxos financeiros, com pouco turismo e baixa inserção internacional pode crescer tanto? Principalmente levando em consideração a situação econômica mundial, onde o ritmo parece estar em plena desaceleração. Sem dizer que diferentemente dos países do sudeste asiático, o Butão não está se inserindo no sistema de produção local como a Tailândia, Vietnam, as Filipinas ou a Malásia. Mas mesmo assim o país cresce de forma acelerada.
Para entender esse crescimento é necessário entender mais sobre o Butão. Um país onde a monarquia absoluta durou até 2006 e as primeiras eleições foram apenas em 2008, a religião budista possuí um forte peso estatal e a população vive numa situação praticamente feudal, porém feliz, tanto que o país é o criador do FIP (Felicidade Interna Bruta) um índice completamente diferente do PIB focado na felicidade dos indivíduos contemplando 9 áreas:
BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
SAÚDE
USO DO TEMPO
VITALIDADE COMUNITÁRIA
EDUCAÇÃO
CULTURA
MEIO AMBIENTE
GOVERNANÇA
PADRÃO DE VIDA
De origem monástica, o Governo do Butão concentra seus esforços em garantir a manutenção da paz no território, das tradições e da cultura. Havendo poucas medidas para desenvolver uma cultura de mercado e financeira, tal como acontece com os países vizinhos. Desse modo, para entender o crescimento do PIB do Butão é preciso analisar sua política exterior com os dois principais players da região: a Índia e a China. Dois gigantes que crescem a ritmo acelerado e que influenciam o pequeno país.
Ambos os países vizinhos possuem uma enorme demanda energética e o Butão possui importantes recursos hídricos, de modo que não é de estranhar que a construção de uma série de represas, sendo a Hidrelétrica Power Station Tala o projeto mais importante , tenha gerado o crescimento da economia local. Isso ocorreu devido à injeção de recursos durante a construção e, posteriormente, aos royalties gerados pela venda do excedente de energia – a demanda interna é mínima.
É importante ressaltar que a economia Butanesa é pequena, de modo que o elevado crescimento do PIB pode gerar uma falsa sensação de ascensão do país. Mas, se analisarmos os demais índices, vemos que o Butão continua sendo um país sem grande projeção ou trajetória econômica e sem grandes pretensões financeiras. O PIB de aproximadamente 1,2 bilhões de dólares apresentado em 2008, atualmente não supera 2 bilhões de dólares. E, mesmo crescendo a 7%, não é nada comparado ao de outras economias.
Esse exemplo sobre o crescimento do PIB mostra que ao falar sobre o assunto é necessário analisar toda a conjuntura do país, os reflexos mútuos das esferas interna e externa e separar epistemologicamente o ritmo do crescimento, a evolução do crescimento e o desenvolvimento decorrente dessa evolução. Nessa corrida pelo crescimento rápido, muitos esquecem disso… Embora talvez o mais importantes seja não se focar no PIB, mas talvez no ‘FIB’, e dessa forma conseguir algo ainda mais importante: o PIB da felicidade!
Foto: Douglas J. McLaughlin GNU Free Documentation.